quarta-feira, 22 de abril de 2015

ECONOMIA VERDE: POTENCIALIDADE DO MUNICÍPIO

Conceito fortemente discutido na Rio+20, evento das Nações Unidas que ocorreu em 2012 no Rio de Janeiro – RJ, a economia verde abrange a todas as áreas do desenvolvimento humano, tendo como característica essencial a preservação do meio ambiente e o fortalecimento das populações humanas vulneráveis.

O município de Cândido Sales, de base econômica eminentemente rural, pode encontrar no conceito de economia verde aplicado na agricultura familiar, uma alternativa para o desenvolvimento da cidade.

Há dezenas de anos a comunidade Candido-salense sobrevive consorciando a agricultura de subsistência ao seu hábito de vida e à economia da família, de modo que, mesmo antes dos subsídios do governo às pessoas pobres do meio rural, estes encontravam dignidade humana no exercício da agricultura familiar.

Existem relatos de famílias de Cândido Sales, que remanescentes do meio rural, conseguiram alcançar patamares sociais e de educação através da economia de subsistência, pessoas que a partir do cultivo de mandioca, por exemplo, conseguiram adquirir bens e imóveis, de modo que a eficácia da agricultura familiar como modalidade de desenvolvimento já é mais que comprovada.

Essa potencialidade, que na verdade, é uma característica sociocultural da região, ainda persiste, embora, sem o devido reconhecimento da sociedade e dos governantes. Ainda hoje, por exemplo, 14.032 pessoas do município estão na Zona Rural, 50% da população (IBGE/2010).

Com a ampliação de serviços públicos de acesso a água, eletricidade e educação em todo Território Nacional, ocorrido principalmente na última década, os Candido-salenses encontraram ainda mais razões para permanecerem-se no campo.

Hoje apesar de todas as deficiências, principalmente, da parte do poder público, especula-se que os moradores do meio rural do município de Cândido Sales, vivem melhor que a maioria dos da sede, isso por uma simples questão: o morador do meio rural tem mais instrumentos para ser resiliente e sobreviver.

Embora essa discussão sobre agricultura familiar seja da ordem do dia, com implicações pára o futuro do planeta, aqui no nordeste, mais precisamente na região semiárida os brasileiros já sabem há séculos a importância de subsistir com a auto-gestão dos produtos gerados pelo sistema familiar de produção.

Apesar de avanços na infra-estrutura proporcionados pelo governo federal (água, luz e máquinas), o município de Cândido Sales-BA parece está na contra-mão do desenvolvimento, um exemplo é o que o ocorreu com a principal cultura do município que foi perdendo o seu prestígio junto as autoridades competentes nos últimos anos.

Município que já foi considerado o maior produtor de mandioca (Manihot esculenta) do Brasil até pouco tempo necessitava trazer os derivados da mandioca de outros municípios do país, o que atesta a incompetência dos governos dos últimos 15 anos no sentido de identificar e valorizar as potencialidades do município.

A história recente da cultura da mandioca em nosso município é bastante triste, pois envolve ingratidão, cobiça e imediatismo. Mesmo ciente da força da “cultura mãe” os políticos e alguns “empresários” não hesitaram em ignorar a mandiocultura em Cândido Sales-BA. Saímos de uma situação em que éramos notícia na imprensa nacional por realizar feiras, encontros e seminários sobre agricultura familiar, para se tornar fonte de notícias calamitosas.

O imediatismo e o ganho no curtíssimo prazo apequenaram a visão de parte dos nossos agricultores, e estes passaram a investir tempo e esforço em outras monoculturas, que não tinham efetividade comprovada no Território Municipal.

Foi o que aconteceu com a cultura do eucalipto, que em alguns casos chegou a substituir áreas tradicionalmente reservadas para o cultivo da mandioca. Todo esse desperdício de tempo e dinheiro que ocorreu, quando os agricultores investiram às segas no eucalipto, na expectativa de obter altos ganhos com a cultura, se fosse investido no fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca, a realidade do município seria outra.

Essa alteração na lógica da agricultura local, onde a cultura da mandioca era tida como principal, sendo orbitada por outras culturas como o cultivo de milho e feijão mais a criação de gado e pequenos animais, impactou fortemente na vida das famílias candido-salenses que vivem no campo, inclusive, muitas delas deixaram o meio rural por falta de incentivo.

No caso da mandiocultura, os atravessadores tiveram papel fundamental em prejudicar o seu desenvolvimento em Cândido Sales-BA, pois os mesmos que compravam a farinha de mandioca, por exemplo, a preços muito abaixo do mercado dos pequenos agricultores e revendiam com uma extraordinária margem de lucro, foram os que transferiam o foco e o investimento para a cultura do eucalipto.

Apesar de toda a potencialidade do município a falta de planejamento, principalmente, da parte do poder público local impede que o desenvolvimento através da agricultura familiar ocorra em nossa cidade, pois seriam necessários investimentos em infra-estrutura e educação, o que não ocorreu nos últimos anos.

O incentivo dos governantes é uma obrigação, principalmente, em realidades onde o município carece de fontes agregadoras em suas economias, cidades que não possuem receita própria, tem a obrigação de incentivar o desenvolvimento rural sustentável de modo a fortalecer os seus arranjos produtivos locais.

O governo federal do Brasil desenvolve políticas de incentivo à agricultura familiar através das compras governamentais por meio de mecanismos como o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE e o Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, no caso da merenda escolar das escolas públicas o programa estabelece que no mínimo 30% dos alimentos sejam adquiridos da agricultura familiar.

As potencialidades do município no que se refere à agricultura são evidentes, e além da mandioca, rica fonte de carboidrato, no município se adapta uma série de culturas, que surgem até mesmo espontaneamente como é o caso da manga e da acerola.

O cultivo de melancia também já obteve bons resultados em Cândido Sales-Ba e existem experiências positivas com a cultura do maracujá, mas o que impressiona mesmo é a adaptabilidade da acerola no solo candido-salense.

Se todos esses potenciais fossem estimulados, sistemas de produção fossem desenvolvidos, a maior parte da renda municipal ia vir do campo e oportunidades seriam criadas. Por exemplo, atualmente não existissem produtores organizados para fornecer alimento ao município através do PNAE e PAA.

As potencialidades do desenvolvimento rural sustentável do município de Cândido Sales-BA, são inúmeras, no entanto, a desarticulação dos produtores rurais e a ausência de lideranças políticas que tratem o assunto com seriedade, faz com que as possibilidades, embora latentes, permaneçam paralisadas. 

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